segunda-feira, agosto 15, 2011

Com açúcar, com afeto


Foi um encontro casual; um jantar com amigos em comum me permitiu conhecer Dona Liduína Quinto. Para o jantar em questão, Lidu (como é carinhosamente tratada pelos mais próximos) preparou uns “docinhos” para uma degustação descompromissada. Já tem algum tempo, após uma reeducação alimentar, que os doces saíram do top de minhas preferências. Gosto, mas sem paixões, confesso. O problema é que meus olhos encontraram uma colher, com uma “massinha” verde, coberta de amêndoas e delicadamente embalada em um saco de celofane, adornado com uma fitinha também da mesma cor da massinha em questão.  E, como se sabe, a gente come com os olhos,  primeiro. E, cá entre nós, a primeira impressão é sempre a que fica.
Foi quando Dona Liduína me contou: tratava-se de um brigadeiro de colher... de pistache. Havia outros ali, incrivelmente bonitos e curiosos. E o papo evoluiu – conversando, descobri que estava na presença de uma das doceiras mais respeitadas de Belém e, ao me apresentar como “aprendiz de feiticeira”, fiz a proposta de entrevistá-la para o site da Revista Leal Moreira. O assunto? Brigadeiros, é óbvio.
Encontramo-nos na última sexta-feira de julho. Chego à casa da Dona Liduína e fico encantada com tantas revelações.
Liduína Quinto sempre gostou de cozinha. Economista de formação (pela UFPA), encontrava nas filhas a desculpa para dedicar-se a um hobby que não era bem visto pelo marido, à época. “Tive três meninas e toda tarde havia chás para as bonecas. Eu ia para a cozinha fazer biscoitinhos, bolinhos todo dia”, conta. A fartura da produção permitia, por exemplo, que as meninas levassem o excedente pra escola.
Os elogios eram tantos... e precederam os primeiros pedidos de encomenda. Quem disse que o marido deixou? “Ele achava um absurdo, que não havia necessidade, já que nosso padrão de vida era alto e trabalhar com encomendas não justificava”. Mas já era tarde: a fama de doceira de mão cheia popularizou-se entre os vizinhos do edifício luxuoso em que morava, de frente para a Praça da República. E quando o marido soube? “Aborrecidíssimo”.
Apesar de tanta contrariedade, Dona Lidu não desistiu. Chegou a oferecer doces para restaurantes. O ápice foi quando assumiu um quiosque em um clube da capital e uma invenção simples dela – a pipoca com chocolate – ficou famosa em toda a cidade. Infelizmente a empreitada foi interrompida.
“Veio a separação e o padrão caiu muito”, conta. “Apenas uma filha adolescente ficou comigo. Com a missão de sustentar a casa, tive de fazer a única coisa que sabia fazer: doces”. E foi assim que iniciou o negócio que a sustenta até hoje. Autodidata, Liduína entrou de cabeça nos doces. “Fui fazer cursos com as pessoas mais respeitadas da área, investi em livros e todos os dias testava receitas em casa. Prezo por qualidade e só uso produtos de primeira, tanto nacionais, quanto importados”, afirma.
E conta uma história, no mínimo, curiosa. “Eu inventei o bolo bem-casado. Achava lindo os bem-casados e ficava imaginando quão perfeito seria ter o bolo. Experimentei todos os recheios que você puder imaginar. Durante dois anos – TODOS OS DIAS – testei o recheio, até chegar a um resultado de que eu gostasse, que fosse perfeito”. Não à toa, o bolo bem-casado é um dos mais encomendados.
E o brigadeiro?
“Ah, é um dos doces mais requisitados. Comecei a inventar sabores diferentes. Fala-se muito em brigadeiros gourmets e, no entanto, sempre achei um absurdo dizer que o brigadeiro é de amêndoas se ele era de chocolate por dentro e só a cobertura continha lascas de amêndoas. Sempre achei que os brigadeiros tinham de ter os mesmos ingredientes de suas coberturas”.
Lembra da “massinha verde” na colher, do começo deste texto? Era brigadeiro de pistache, feito com pistache e cobertura de... pistache! =)
E os brigadeiros feitos especialmente para esta humilde colunista? De amêndoas, o tradicional... com confeitos.. e até de Tiramisú (eu sei, não é incrível?!?!?!).
Pergunto se ela está disposta a ensinar algum segredinho do brigadeiro. Ela cai na gargalhada e limita-se a dizer que há duas coisas que são subestimadas e que interferem diretamente no produto final: as pessoas deixam queimar o brigadeiro e quase sempre usam manteiga com sal para fazer o doce. “Mas, afinal, manteiga é realmente necessária ao brigadeiro?”, pergunto. Ela diz que sim: manteiga – sem sal – faz toda a diferença.
E para não errar....
Brigadeiro dos sonhos, by Liduína Quinto
Ingredientes:
1 lata de leite condensado
4 colheres (sopa) de chocolate em pó
1 colher (sopa) de manteiga sem sal
Modus Operandi:
Coloque todos os ingredientes em uma panela. Misture bem e leve ao fogo médio. Quando desgrudar da panela, está pronto. Não pode parar de mexer, nem deixar queimar.
Quando esfriar, faça as bolinhas e passe no granulado de sua preferência.
* Lorena Filgueiras é jornalista, mestranda de Gastronomia. Gerente de Conteúdo da Door Comunicação Ilimitada. Adora receitas, comer e beber bem - lorena@door.net.br

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